Um dos locais a visitar em Vila Real é, sem dúvida, a Casa de Mateus. O edifício é mandado construir na primeira metade do século XVIII por António José Botelho Mourão, 3º Morgado de Mateus, para substituição da casa de família já ali existente em inícios do século XVII. Em 1743, o então arcebispo D. José de Bragança foi informado de que António Mourão havia demolido um palácio para construir um outro melhor, razão pela qual se crê que à data a edificação do Solar estaria já em fase adiantada.
De arquitectura barroca e de gosto italiano, os seus planos são atribuídos a Nicolau Nasoni, tanto pela coerência do estilo e semelhança com outras obras de sua autoria bem como pela extensa actividade do arquitecto pelo norte do país. Tal como se pode ler nas palavras da arquitecta Teresa Nunes da Ponte, segundo Robert Smith, especialista na obra de Nasoni, o arquitecto terá dedicado à construção da Casa, ou pelo menos à sua fachada central e decoração, os anos entre 1739 a 1743. Todavia, ainda segundo Robert Smith, apenas lhe pode ser atribuída a concepção da escadaria e pátio de entrada com passagem directa de carruagens para o jardim posterior, num modelo semelhante ao dos palácios italianos que Nasoni com conheceria com toda a certeza. Do mesmo modo, a dupla escadaria, os vãos dos patamares e a cornija da fachada se aproximam de outras edificações da autoria de Nicolau Nasoni. Contudo, o excesso de decoração na fachada da Casa de Mateus, bem como a inserção de elementos estranhos a Nasoni levam a ponderar a hipótese das próprias composições do arquitecto terem sido executadas posteriormente, incorporando algumas divergências e afastamentos relativamente aos desenhos originais do arquitecto.
Associado ao esplendor barroco da fachada principal e da riqueza da decoração temos uma impressionante racionalidade ao nível da planta e um rigor quanto à métrica e à modulação. A planta está inserida num rectângulo, dividindo-se em dois quadrados vazados ao centro, criando várias alas e compondo dois pátios ligados entre si através de grandes aberturas no piso térreo. O pátio frontal é aberto à frente, abrindo a vista da fachada principal, que se encontra recuada e voltada a poente. O pátio posterior é encerrado criando uma estrutura semelhante a um "H" fechado no topo. Ambos os pátios definem, através dos grandes vãos do rés-do-chão, um eixo central de perspectiva que atravessa toda a construção. O acesso ao piso nobre faz-se por dupla escadaria, elemento que se repete nas fachadas transversais dos dois pátios, duas a poente e uma a nascente, acentuando a simetria e o movimento barroco de toda a ornamentação.
Completando o conjunto, temos a Capela e a Adega. A Capela já terá sido terminada no tempo de D. Luís António de Sousa Botelho Mourão, 4º Morgado de Mateus. A capela apresenta bastantes semelhanças, em especial ao nível da composição da frontaria, com a igreja Nova de Vila Real onde trabalhou José de Figueiredo Seixas, natural de Viseu. José Seixas é considerado um dos artistas que “prolongou de certo modo a lição do artista toscano”, sendo o provável responsável pelo desenho do edifício..
Referências em documentos do arquivo da Casa e a análise atenta da planta e elementos da construção, apontam para a identificação de possíveis pré-existências da primitiva construção e diferentes campanhas de obras. Diferente constituição da alvenaria de pedra em paredes e distintas espessuras podem significar obras sucessivas, sendo nesta hipótese mais recentes as alas frontais do edifício, tese colocada por Vasco Graça Moura nos seus estudos sobre a Casa.
A partir de 1979 todo o conjunto é adaptado às actividades culturais da Fundação Casa de Mateus, tendo sido restaurados e reabilitados a Casa e os anexos agrícolas. É então criado um circuito expositivo alargado e vários novos núcleos de exposição que integram o espólio da família e complementam o Museu, que é remodelado. O Barrão da Eira é recuperado para apoio à realização das actividades da Fundação sendo construídos, em anexo, camarins de apoio. A Adega sofre obras de recuperação e é equipada de acordo com as novas exigências técnicas. O antigo Lagar de Azeite é reabilitado e ampliado para a instalação da Residência de Artistas.
A escultura de João Cutileiro, que desde 1981 dorme no Lago, integrou já a imagem da Casa.
Em 1911 é classificada como Monumento Nacional.
Fotografia © Nuno Ferreira
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