domingo, 19 de abril de 2009

Hipólito

Como o prometido é devido, aqui estou eu para comentar o espectáculo. Inicialmente fiquei com a sensação que poderia ser mais pesado do que realmente foi. Sem dúvida que o tema é desconfortável, mais do que outra coisa qualquer. Mas o desconfortável tem vários níveis e depende de quem o experimenta e eu nunca tive grande inclinação para sentir desconforto com temas fortes. As primeiras cenas levam o espectador a entrar num mundo de abusos e agressões e a iniciar a escalada na tal gradação de desconforto. O texto é fluido e funcional, um pouco duro e directo, o que aparentemente é normal em Mikael de Oliveira. Pelo menos fiquei curioso sobre o trabalho dele. A encenação, do próprio John Romão, é simples mas recortada com pormenores de extrema inteligência. Entre muitas outras coisas gostei do banho e gostei do porco. Não me perguntem... vão ver. Mas, para além do texto e da encenação, estava curioso para ver se a relação entre os dois actores tinha sido conseguida ou não. E durante o espectáculo o que transpareceu foi uma enorme empatia entre o John Romão e o pequeno actor Martim Barbeiro, ao ponto de o primeiro descer a máscara do segundo e humanizá-lo com as demonstrações de preocupação em relação a este, ao invés do que seguia no texto entre personagens, preocupação com as suas posições em palco, tempos e mais importante com a segurança e bem estar de Martim. O humor de John, a dançar entre o negro e o british, estava lá presente e martelava sempre que necessário. O de Martim, natural e infantil, também e era delicioso.
Numa escala de 10... não, nada de escalas neste blog. Não acham pretensioso isso das escalas? Ver uma nota alta atribuída a algo que no dia anterior tínhamos visto e detestado e uma nota baixa à coisa que nos parecia ser a revelação dos segredos do universo? Apenas digo que vale a pena ver. Não é perda de tempo, nem de dinheiro, nem de neurónios.

PS: Pergunta aos actores - Não deslocaram nenhum bracinho ao pequeno Martim, pois não? Livra. Aquilo parece a dada altura que o rapaz está numa centrifugadora a 100 à hora. O John devia vender bilhetes na Feira Popular e apresentar-se como montanha russa personalizada. Impossível ver aquilo como actos de violência quando recortados por gritos de alegria e gozo do Martim. Cool.

Sem comentários:

Enviar um comentário