Mostrar mensagens com a etiqueta vila real. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta vila real. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Vila Real - Casa de Mateus

Um dos locais a visitar em Vila Real é, sem dúvida, a Casa de Mateus. O edifício é mandado construir na primeira metade do século XVIII por António José Botelho Mourão, 3º Morgado de Mateus, para substituição da casa de família já ali existente em inícios do século XVII. Em 1743, o então arcebispo D. José de Bragança foi informado de que António Mourão havia demolido um palácio para construir um outro melhor, razão pela qual se crê que à data a edificação do Solar estaria já em fase adiantada.
De arquitectura barroca e de gosto italiano, os seus planos são atribuídos a Nicolau Nasoni, tanto pela coerência do estilo e semelhança com outras obras de sua autoria bem como pela extensa actividade do arquitecto pelo norte do país. Tal como se pode ler nas palavras da arquitecta Teresa Nunes da Ponte, segundo Robert Smith, especialista na obra de Nasoni, o arquitecto terá dedicado à construção da Casa, ou pelo menos à sua fachada central e decoração, os anos entre 1739 a 1743. Todavia, ainda segundo Robert Smith, apenas lhe pode ser atribuída a concepção da escadaria e pátio de entrada com passagem directa de carruagens para o jardim posterior, num modelo semelhante ao dos palácios italianos que Nasoni com conheceria com toda a certeza. Do mesmo modo, a dupla escadaria, os vãos dos patamares e a cornija da fachada se aproximam de outras edificações da autoria de Nicolau Nasoni. Contudo, o excesso de decoração na fachada da Casa de Mateus, bem como a inserção de elementos estranhos a Nasoni levam a ponderar a hipótese das próprias composições do arquitecto terem sido executadas posteriormente, incorporando algumas divergências e afastamentos relativamente aos desenhos originais do arquitecto.
Associado ao esplendor barroco da fachada principal e da riqueza da decoração temos uma impressionante racionalidade ao nível da planta e um rigor quanto à métrica e à modulação. A planta está inserida num rectângulo, dividindo-se em dois quadrados vazados ao centro, criando várias alas e compondo dois pátios ligados entre si através de grandes aberturas no piso térreo. O pátio frontal é aberto à frente, abrindo a vista da fachada principal, que se encontra recuada e voltada a poente. O pátio posterior é encerrado criando uma estrutura semelhante a um "H" fechado no topo. Ambos os pátios definem, através dos grandes vãos do rés-do-chão, um eixo central de perspectiva que atravessa toda a construção. O acesso ao piso nobre faz-se por dupla escadaria, elemento que se repete nas fachadas transversais dos dois pátios, duas a poente e uma a nascente, acentuando a simetria e o movimento barroco de toda a ornamentação.
Completando o conjunto, temos a Capela e a Adega. A Capela já terá sido terminada no tempo de D. Luís António de Sousa Botelho Mourão, 4º Morgado de Mateus. A capela apresenta bastantes semelhanças, em especial ao nível da composição da frontaria, com a igreja Nova de Vila Real onde trabalhou José de Figueiredo Seixas, natural de Viseu. José Seixas é considerado um dos artistas que “prolongou de certo modo a lição do artista toscano”, sendo o provável responsável pelo desenho do edifício..
Referências em documentos do arquivo da Casa e a análise atenta da planta e elementos da construção, apontam para a identificação de possíveis pré-existências da primitiva construção e diferentes campanhas de obras. Diferente constituição da alvenaria de pedra em paredes e distintas espessuras podem significar obras sucessivas, sendo nesta hipótese mais recentes as alas frontais do edifício, tese colocada por Vasco Graça Moura nos seus estudos sobre a Casa.
A partir de 1979 todo o conjunto é adaptado às actividades culturais da Fundação Casa de Mateus, tendo sido restaurados e reabilitados a Casa e os anexos agrícolas. É então criado um circuito expositivo alargado e vários novos núcleos de exposição que integram o espólio da família e complementam o Museu, que é remodelado. O Barrão da Eira é recuperado para apoio à realização das actividades da Fundação sendo construídos, em anexo, camarins de apoio. A Adega sofre obras de recuperação e é equipada de acordo com as novas exigências técnicas. O antigo Lagar de Azeite é reabilitado e ampliado para a instalação da Residência de Artistas.
A escultura de João Cutileiro, que desde 1981 dorme no Lago, integrou já a imagem da Casa.
Em 1911 é classificada como Monumento Nacional.






















Fotografia © Nuno Ferreira
É permitida a reprodução apenas para uso pessoal e educacional. O uso com fins comerciais é proibido.
Photography © Nuno Ferreira
Permission granted to reproduce for personal and educational use only. Commercial copying, hiring, lending is prohibited.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Vila Real - Sé Catedral

A paragem seguinte da nossa visita a Vila Real foi a Sé Catedral daquela cidade, situada em pleno centro histórico, num dos lados da Avenida Carvalho de Araújo. A Sé Catedral não é mais nem menos do que a igreja do antigo Convento de São Domingos que viu-se elevada àquele estatuto aquando da criação da diocese de Vila Real, em 1922, por indicação de SS. o Papa Pio XI.
Voltando às origens, a primeira pedra da igreja terá sido lançada a 8 de Maio de 1424 na presença do Frei Vasco de Guimarães. A igreja construída em granito de origem local, é de estilo gótico, ainda que conserve um notório cunho românico, constituindo segundo o IPPAR o melhor exemplo de arquitectura transmontana daquele estilo. Na frente da igreja erguem-se dois contrafortes que definem as três naves. De entre os dois contrafortes avança o corpo onde se abre o portal gótico, composto com colunelos e arquivoltas lisas, encimado por duas edículas que abrigam, cada uma delas, uma pequena escultura quatrocentista provavelmente de um santo ou apóstolo. No alto da frontaria abre-se um óculo, possivelmente pensado para uma rosácea cujo espelho agora desapareceu e que actualmente se apresenta fechada por um vitral. A porta lateral norte é do mesmo tipo, embora mais modesta, enquanto que a sul é formada por um arco redondo com uma moldura de almofadadas em ponta de diamante. No exterior da igreja é ainda digno de nota as cachorradas sob as cornijas dos beirais, as molduras que marcam um segundo piso e duas pequenas rosáceas, a primeira na empena do arco triunfal e a segunda na empena do braço sul do transepto.
O interior segue o modelo das igrejas mendicantes da época quatrocentista. Aqui encontramos três naves, de cobertura de madeira, com igual número de tramos e transepto saliente. São delimitadas por arcadas longitudinais de arcos quebrados, de maior dimensão sobre os vãos do transepto, sustentados por pilares com colunas embebidas e arestas cortadas por chanfraduras côncavas. A iluminação realiza-se com um clerestório e frestas de pequena dimensão nas paredes das naves laterais.
A igreja sofreu algumas alterações no decorrer do século XVIII, em especial ao nível da cabeceira, passando então a sacristia e a capela-mor a ostentarem uma ornamentação exterior de estilo rocaille, igualmente patente na nova torre que foi adossada ao seu flanco sul. A capela-mor é de formato rectangular e é coberta por uma abóbada de berço rebocada, com três tramos definidos por arcos torais.
Espalhados pelas paredes interiores encontramos diversos arcossólios góticos, dos quais se destaca o que contém o túmulo de Diogo Afonso e de sua mulher Branca Dias, e que apresenta um arco quebrado de espelho trilobado e arca assente em leões de pedra.
Na igreja podemos ainda encontrar um conjunto de capitéis decorados com motivos antropomórficos e fitomórficos, onde se figuram personagens de perfil rodeadas por folhagem e que constituem uma representação das classes sociais e das actividades da época.
Em 1834 o edifício conventual é transformado em quartel militar, após a expulsão dos frades daquele espaço, o qual viria a ser devorado por um incêndio de mão criminosa a 21 de Novembro de 1837. O incêndio foi responsável pela destruição da maior parte da ornamentação interior do templo.
A igreja foi classificada como monumento nacional por decreto, datado de 19 de Fevereiro de 1926, tendo sido restaurada no início dos anos 40 do século XX nesse âmbito. Durante esta intervenção, parte do cadeiral de pau-preto da capela-mor foi removido, conservando-se no entanto alguns elementos, intervenção que procedeu igualmente à substituição do retábulo de talha por um outro de pendor mais clássico, adequado a uma pretensa austeridade que se quis recuperar.
Recentemente, já no século XXI, o pintor transmontano João Vieira, a convite do IPPAR realiza para o edifício uma série de vitrais que agora ali se apresentam, inspirados no evangelho segundo S. João.







Fotografia © Nuno Ferreira
É permitida a reprodução apenas para uso pessoal e educacional. O uso com fins comerciais é proibido.
Photography © Nuno Ferreira
Permission granted to reproduce for personal and educational use only. Commercial copying, hiring, lending is prohibited.

domingo, 3 de julho de 2011

Vila Real - Casa dos Brocas

Ao visitar Vila Real, o primeiro destino foi o da chamada "Casa de Camilo". Descemos a Avenida Carvalho de Araújo, desde a Pastelaria Gomes, até à Câmara Municipal de Vila Real, voltando à esquerda até à Rua Camilo Castelo Branco, antiga Rua da Piedade. Chegamos então à Casa dos Brocas, a casa dos Correia Botelho, isto é, da família de Camilo Castelo Branco. mandada erigir por Domingos Correia Botelho, avô paterno de Camilo, cerca de 1774, e que nela nasceu, a 17 de Agosto de 1778, Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco, pai do escritor. Também ali faleceu o próprio Manuel Correia Botelho, a 16 de Janeiro de 1801 e o célebre bacharel flautista (como se-lhe referia Camilo) Domingos José Correia Botelho, o "Dr. Brocas", a 23 de Junho de 1809.

Sobre a casa, escreve Camilo em "Amor de Perdição" o seguinte: "Domingos Botelho conformou-se com a estremecida consorte, e começou a fábrica dum palacete. Escassamente lhe chegavam os recursos para os alicerces: escreveu à rainha, e obteve generoso subsídio com que ultimou a casa. As varandas das janelas foram a última dádiva que a real viúva fez à sua dama. Quer-nos parecer que a dádiva é um testemunho, até agora inédito, da demência da senhora D. Maria I. Domingos Botelho mandara esculpir em Lisboa a pedra de armas; D. Rita, porém, teimava que no escudo se esquarteassem também as suas; mas era tarde, porque já a obra tinha vindo do escultor, e o magistrado não podia com a segunda despesa, nem queria desgostar seu pai, orgulhoso de seu brasão. Resultou daqui ficar a casa sem armas e D. Rita vitoriosa."

A casa, situada da freguesia de S. Dinis, mede na frontaria cerca de vinte e cinco metros e meio de comprimento e é composta por rés-do-chão e primeiro andar. A principal ornamentação exterior do imóvel é constituída por dez varandas acachorradas, com grades de ferro forjado. Nove grades datam do século XVIII e uma do século XIX.

Segundo José de Campos e Souza, se é verdadeira a tradição, as nove mais antigas foram as primeiras varandas do género empregadas na construção civil em Vila Real. Ainda segundo este autor o estado de conservação interior desta bela casa é francamente deplorável. Pouco, ou nada, resta da primitiva traça, a que não faltavam dignidade e discreta grandeza. D. Rita Emília da Veiga Castelo Branco, tia paterna de Camilo Castelo Branco, hipotecou o edifício, por 300 mil réis, ao Dr. António Gerardo Monteiro, em cuja posse a casa ainda se encontrava no ano de 1862. Mais tarde, os herdeiros do Dr. Monteiro venderam-na, por 6 contos de réis, à Congregação das Doroteias. Nela funcionaram a Roda e uma escola primária. Em 1914, foi adquirida pelo Estado. Pertenceu depois ao capitalista Francisco Lameirão, sendo, no ano de 1946, propriedade dos seus herdeiros. Actualmente [em 1967] é de quatro condomínios, que nela habitam: Adão Barros, Manuel Ribeiro dos Santos Lameirão, Filomena Gonçalves e Teresa Cramez Ferreira.

Na fachada da casa podemos encontrar uma placa comemorativa mandada colocar pela Comissão Regional de Turismo da Serra do Marão em 1966.

Fotografia © Nuno Ferreira
É permitida a reprodução apenas para uso pessoal e educacional. O uso com fins comerciais é proibido.
Photography © Nuno Ferreira
Permission granted to reproduce for personal and educational use only. Commercial copying, hiring, lending is prohibited.