Ao visitar Vila Real, o primeiro destino foi o da chamada "Casa de Camilo". Descemos a Avenida Carvalho de Araújo, desde a Pastelaria Gomes, até à Câmara Municipal de Vila Real, voltando à esquerda até à Rua Camilo Castelo Branco, antiga Rua da Piedade. Chegamos então à Casa dos Brocas, a casa dos Correia Botelho, isto é, da família de Camilo Castelo Branco. mandada erigir por Domingos Correia Botelho, avô paterno de Camilo, cerca de 1774, e que nela nasceu, a 17 de Agosto de 1778, Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco, pai do escritor. Também ali faleceu o próprio Manuel Correia Botelho, a 16 de Janeiro de 1801 e o célebre bacharel flautista (como se-lhe referia Camilo) Domingos José Correia Botelho, o "Dr. Brocas", a 23 de Junho de 1809.
Sobre a casa, escreve Camilo em "Amor de Perdição" o seguinte: "Domingos Botelho conformou-se com a estremecida consorte, e começou a fábrica dum palacete. Escassamente lhe chegavam os recursos para os alicerces: escreveu à rainha, e obteve generoso subsídio com que ultimou a casa. As varandas das janelas foram a última dádiva que a real viúva fez à sua dama. Quer-nos parecer que a dádiva é um testemunho, até agora inédito, da demência da senhora D. Maria I. Domingos Botelho mandara esculpir em Lisboa a pedra de armas; D. Rita, porém, teimava que no escudo se esquarteassem também as suas; mas era tarde, porque já a obra tinha vindo do escultor, e o magistrado não podia com a segunda despesa, nem queria desgostar seu pai, orgulhoso de seu brasão. Resultou daqui ficar a casa sem armas e D. Rita vitoriosa."
A casa, situada da freguesia de S. Dinis, mede na frontaria cerca de vinte e cinco metros e meio de comprimento e é composta por rés-do-chão e primeiro andar. A principal ornamentação exterior do imóvel é constituída por dez varandas acachorradas, com grades de ferro forjado. Nove grades datam do século XVIII e uma do século XIX.
Segundo José de Campos e Souza, se é verdadeira a tradição, as nove mais antigas foram as primeiras varandas do género empregadas na construção civil em Vila Real. Ainda segundo este autor o estado de conservação interior desta bela casa é francamente deplorável. Pouco, ou nada, resta da primitiva traça, a que não faltavam dignidade e discreta grandeza. D. Rita Emília da Veiga Castelo Branco, tia paterna de Camilo Castelo Branco, hipotecou o edifício, por 300 mil réis, ao Dr. António Gerardo Monteiro, em cuja posse a casa ainda se encontrava no ano de 1862. Mais tarde, os herdeiros do Dr. Monteiro venderam-na, por 6 contos de réis, à Congregação das Doroteias. Nela funcionaram a Roda e uma escola primária. Em 1914, foi adquirida pelo Estado. Pertenceu depois ao capitalista Francisco Lameirão, sendo, no ano de 1946, propriedade dos seus herdeiros. Actualmente [em 1967] é de quatro condomínios, que nela habitam: Adão Barros, Manuel Ribeiro dos Santos Lameirão, Filomena Gonçalves e Teresa Cramez Ferreira.
Na fachada da casa podemos encontrar uma placa comemorativa mandada colocar pela Comissão Regional de Turismo da Serra do Marão em 1966.
Fotografia © Nuno Ferreira
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