domingo, 30 de janeiro de 2011

Primeiras Luzes



Deus disse: Haja luz. E houve luz. E Deus viu que a Luz era boa. E fez a separação entre luz e trevas.

Desde os primórdios do tempo que o Homem procura na luz a segurança, um consolo que preencha o vazio, uma resposta a uma pergunta por vezes não pronunciada. A primeira centelha de luz terá sido produzida no início de tudo, no meio do caos, num Universo que começava a compor-se e a organizar-se, como se a luz estivesse ali para dar-lhe um sentido, um caminho a percorrer. E com a luz, as cores, numa explosão de luz branca que aos poucos se estilhaça num infinito de matizes, num infinito condizente com o espaço e o tempo. Tempo que, num plano perfeito, dirige-se a nós, dando sentido a tudo o que existiu anteriormente. Nós. Eu. Você. Aquilo que valida tudo o que nos antecede. Tudo se organizou para chegar até aqui. A um determinado momento.

Ainda como formas de vida intra-uterinas começamos a percepcionar luz e cor. Predomina os vermelhos, quentes, apropriados ao útero, também ele quente, protector. Ao nascer, tal como no início de tudo, uma explosão de luz, fria, avassaladora, dá lugar, pouco a pouco, a uma imensidão de cores, sombras, imagens indefinidas, num êxtase sensorial que há-de começar a fazer sentido.

A fotografia nem sempre respeita uma ordem para que faça sentido. Mas se há algo incontornável na fotografia é a luz. Sem ela a fotografia não existe. Seria possível olharmos para uma fotografia que não tivesse no mínimo um ponto, ainda que ínfimo, de luz? Não seria isso a negação da própria fotografia?

O que se procura aqui não é a captura de imagens definidas ou perfeitas mas antes o ganhar consciência sobre a matéria comum à prática fotográfica. Como uma criança que começa a descobrir o que a rodeia. Aqui a ausência de formas e referências permite-nos centrar naquilo que era pretendido. Permite-nos olhar para uma cor e para a forma como esta se relaciona com uma outra, e outra ainda, como se mistura e se transforma. Vivemos tão rodeados de cor que já não a sentimos como tal. Um carro vermelho, um prédio amarelo, um casaco azul… são apenas adjectivos que se ligam a coisas. Mas um carro não deixa de ser um carro independentemente de ser vermelho ou amarelo ou azul. Mas o vermelho é vermelho, o amarelo é amarelo e o azul é azul independentemente se o são de facto. Aquilo que é vermelho para mim poderá não o ser para outro. E é também por isso é que a fotografia nunca deixa de ser algo pessoal, e a forma como escrevemos essa fotografia tão única como um texto manuscrito, com corações a fazer de pontinhos nos “is” ou qualquer outra marca que torna a nossa caligrafia diferente das outras.

“Primeiras Luzes” é o produto de um trabalho de pesquisa e experimentação, onde a luz e a cor são matéria-prima.

Nuno Ferreira, 2010.


Nota Biográfica
Nuno Ferreira nasceu no Porto em 1975. Na área da fotografia tem desenvolvido e colaborado em diversos projectos dos quais se destaca a participação em exposições colectivas (NFN, 2002-2005), publicações e colaboração em edições (Linguagem da Luz, 2001; Revista Águas Furtadas; Revista Espaço Con(tacto)), coordenação de exposições (KID5, 2001; Portugal Contemporâneo, 2002), edição fotográfica (Jornal Universitário do Porto, 2003-2004), reportagens fotográficas (Festival de Trebilhadouro, 2005, 2007 e 2009), entre outros. Tem vindo ainda a ministrar formação em fotografia na instituição Espaço T.


Na Internet:
Fundação da Juventude (27/01/2011)
Guia da Baixa do Porto (30/01/2011)
pportodosmuseus (31/01/2011)
Cultura Online (01/02/2011)
Artist Level (01/02/2011)
Escape by Expresso (02/02/2011)
Viajar Clix (04/02/2011)
Sapo Cultura (08/02/2011)
Camera Clube (12/02/2011)
Portugal Travel and Hotels Guide (12/02/2011)

sábado, 22 de janeiro de 2011

Museu Colecção Berardo: A Culpa Não É Minha - Obras da Colecção António Cachola

Termina amanhã no Museu Colecção Berardo a exposição "A Culpa Não É Minha - Obras da Colecção António Cachola". A Colecção António Cachola em depósito no Museu de Arte Contemporânea de Elvas, desde 2007, é apresentada pela primeira vez em Lisboa. Confrontando o entendimento das diferentes linguagens e tempos através de uma selecção de uma centena de obras, o comissário, Eric Corne, procura dar a conhecer a sua perspectiva do panorama artístico contemporâneo português por via desta emblemática colecção iniciada em 1990 e que conta já com cerca de 400 obras. Tive a oportunidade de visitar esta exposição há cerca de uma semana, pelo que vos deixo com algumas imagens captadas no local.


João Tabarra - O Encantador de Serpentes (2007)
Projecção vídeo, cor, s/ som, 16:9
José Maçãs de Carvalho - Striptease as Textuality (2001)
Projecção vídeo, cor, som, 4:3


João Pedro Vale - A Culpa Não é Minha (2003)
Ferro e Corda
João Louro - Dead End #2 (2001)
Painéis Metálicos


Augusto Alves da Silva - 3.16 (2003)
Série de 11 Fotografias
Luís Campos - Sem Título (1994)- Série "Transurbana"
C-Print, Cibachrome, Tríptico


Ângela Ferreira - Marquise + 3 Fotografias (1993) (detalhe)
Alumínio, plexiglax, PVC, 3 fotografias c-print, cibachrome
Rui Chafes - Febre I (1997)
Ferro


Vasco Araújo - Diva, a Portrait (2000)
Instalação: Tocador, roupas com suporte, objectos vários, flores frescas, 16 fotografias a preto e branco
Pedro Cabrita Reis - Ala Norte (2000)
Alumínio e Acrílico sobre Madeira, Lâmpadas Fluorescentes


Nuno Cera - Sem Título #1 (2000) - Série DK
Lambda sobre Diasec
André Gomes - II Cenas da Vida Libertina (1994) - Série "A Carreira do Libertino"
8 Fotografias de um total de 24, Polaroid-Fujichrome


João Maria Gusmão & Pedro Paiva - A Mola Paleolítica (2006)
C-Print
Gil Heitor Cortesão - Atrás do Vulcão #6 (2009)
Óleo sobre plexiglas


João Queiróz - Sem Título (1998)
Óleo sobre linho
Tiago Batista - Sem Título
Acrílico sobre papel

Fotografia © Nuno Ferreira
É permitida a reprodução apenas para uso pessoal e educacional. O uso com fins comerciais é proibido.
Photography © Nuno Ferreira
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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Fonte Stravinsky

Quem visita Paris e o Centro Pompidou não pode deixar de ver a Fonte Stravinsky, situada na lateral esquerda do Centro, entre este e a Igreja de Saint-Merri. A fonte, com 580 metros quadrados, integra 16 esculturas da autoria de Jean Tinguely (elementos metálicos pretos) e de Niki de Saint Phalle (elementos coloridos) inspiradas na obra de Stravinsky, a Sagração da Primavera. Toda a fonte é construída com materiais leves sendo a base de aço inoxidável e as esculturas feitas a partir de plásticos e outros materiais leves. A fonte situa-se por cima das instalações do Instituto de Pesquisa e Coordenação de Acústica/Musica, uma organização dedicada à promoção de música e musicologia. Foi o seu fundador, Pierre Boulez, que sugeriu a obra de Stravinsky como tema para a fonte.
A Fonte Stravinsky faz parte de um projecto lançado pela Câmara de Paris em 1978 para construir um conjunto de sete fontes contemporâneas. Esta obra em particular é anunciada em 1981, pelo presidente da Câmara, Jacques Chirac com um orçamento que rondou os 5 milhões de francos. Com a direcção artística de Jean Tinguely, a obra deveria contar apenas com as suas esculturas negras, mas em Maio de 1982, Tinguely pede para incluir os trabalhos coloridos de Niki de Saint Phalle, mulher de Tinguely, o que provoca alguma preocupação com o facto destas últimas obras poderem ofuscar as peças negras de Jean Tinguely, sendo então acordada a inclusão de apenas quatro ou cinco obras de Niki de Saint Phalle.
A obra é inaugurada a 16 de Março de 1983.


Fonte Stravinsky, Paris - França


Fonte Stravinsky, Paris - França


Fonte Stravinsky, Paris - França

Fotografia © Nuno Ferreira
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