A paragem seguinte da nossa visita a Vila Real foi a Sé Catedral daquela cidade, situada em pleno centro histórico, num dos lados da Avenida Carvalho de Araújo. A Sé Catedral não é mais nem menos do que a igreja do antigo Convento de São Domingos que viu-se elevada àquele estatuto aquando da criação da diocese de Vila Real, em 1922, por indicação de SS. o Papa Pio XI.
Voltando às origens, a primeira pedra da igreja terá sido lançada a 8 de Maio de 1424 na presença do Frei Vasco de Guimarães. A igreja construída em granito de origem local, é de estilo gótico, ainda que conserve um notório cunho românico, constituindo segundo o IPPAR o melhor exemplo de arquitectura transmontana daquele estilo. Na frente da igreja erguem-se dois contrafortes que definem as três naves. De entre os dois contrafortes avança o corpo onde se abre o portal gótico, composto com colunelos e arquivoltas lisas, encimado por duas edículas que abrigam, cada uma delas, uma pequena escultura quatrocentista provavelmente de um santo ou apóstolo. No alto da frontaria abre-se um óculo, possivelmente pensado para uma rosácea cujo espelho agora desapareceu e que actualmente se apresenta fechada por um vitral. A porta lateral norte é do mesmo tipo, embora mais modesta, enquanto que a sul é formada por um arco redondo com uma moldura de almofadadas em ponta de diamante. No exterior da igreja é ainda digno de nota as cachorradas sob as cornijas dos beirais, as molduras que marcam um segundo piso e duas pequenas rosáceas, a primeira na empena do arco triunfal e a segunda na empena do braço sul do transepto.
O interior segue o modelo das igrejas mendicantes da época quatrocentista. Aqui encontramos três naves, de cobertura de madeira, com igual número de tramos e transepto saliente. São delimitadas por arcadas longitudinais de arcos quebrados, de maior dimensão sobre os vãos do transepto, sustentados por pilares com colunas embebidas e arestas cortadas por chanfraduras côncavas. A iluminação realiza-se com um clerestório e frestas de pequena dimensão nas paredes das naves laterais.
A igreja sofreu algumas alterações no decorrer do século XVIII, em especial ao nível da cabeceira, passando então a sacristia e a capela-mor a ostentarem uma ornamentação exterior de estilo rocaille, igualmente patente na nova torre que foi adossada ao seu flanco sul. A capela-mor é de formato rectangular e é coberta por uma abóbada de berço rebocada, com três tramos definidos por arcos torais.
Espalhados pelas paredes interiores encontramos diversos arcossólios góticos, dos quais se destaca o que contém o túmulo de Diogo Afonso e de sua mulher Branca Dias, e que apresenta um arco quebrado de espelho trilobado e arca assente em leões de pedra.
Na igreja podemos ainda encontrar um conjunto de capitéis decorados com motivos antropomórficos e fitomórficos, onde se figuram personagens de perfil rodeadas por folhagem e que constituem uma representação das classes sociais e das actividades da época.
Em 1834 o edifício conventual é transformado em quartel militar, após a expulsão dos frades daquele espaço, o qual viria a ser devorado por um incêndio de mão criminosa a 21 de Novembro de 1837. O incêndio foi responsável pela destruição da maior parte da ornamentação interior do templo.
A igreja foi classificada como monumento nacional por decreto, datado de 19 de Fevereiro de 1926, tendo sido restaurada no início dos anos 40 do século XX nesse âmbito. Durante esta intervenção, parte do cadeiral de pau-preto da capela-mor foi removido, conservando-se no entanto alguns elementos, intervenção que procedeu igualmente à substituição do retábulo de talha por um outro de pendor mais clássico, adequado a uma pretensa austeridade que se quis recuperar.
Recentemente, já no século XXI, o pintor transmontano João Vieira, a convite do IPPAR realiza para o edifício uma série de vitrais que agora ali se apresentam, inspirados no evangelho segundo S. João.
Fotografia © Nuno Ferreira
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