No dia 18 de Abril é provável que me encontrem pelo Teatro Helena Sá e Costa no Porto. O que me levará lá é uma das duas sessões da peça "Hipólito - Monólogo masculino sobre a perplexidade" do Colectivo 84 com textos originais de Mickael de Oliveira (vencedor do Prémio Dramaturgia Maria Matos 2006) para dois actores, homem e criança, John Romão e Martim Barbeiro, respectivamente. Prometo que depois comento o espectáculo. Para já neste início de blog tenho sido algo preguiçoso com a critica, mas está para breve.
"(...) trata, como o nome indica, do mito de Fedra que envolve a sua vítima - Hipólito. Nas versões clássicas, a vitimização de Hipólito efectua-se através de uma lógica falocêntrica e falocrática, sendo Fedra o motivo feminino trágico, o elemento anómalo social e familiar. Neste Hipólito, Fedra, a imagem feminina que antes era ímpia, frágil e doente, surge aqui como uma mulher predadora, psiquicamente pervertida e sobretudo pedófila, numa lógica de igualdade dos géneros, «Não percebo porque é que ninguém fala das mães pedófilas / Será que elas não existem / Elas são iguais aos homens mesmo no mórbido / Elas também podem matar / Podem atirar ao lixo / sem grande transtorno / as suas próprias progenituras ou então afogá-las / com dois dias de vida e congelá-las / É por isso que hoje sou feminista / Porque acredito na igualdade dos géneros / tanto na bondade como na crueldade». O discurso de Fedra não se inscreve no formato das clivagens entre os sexos, esta Fedra é uma madrasta contemporânea, com “vontade de amar o seu filho com as mãos” e de satisfazer o seu desejo nele. Assim, em vez de ouvirmos o relato de Fedra, o autor propõe que se oiça o relato da vítima que passará, ao longo dos anos de abusos sexuais, a ser igualmente o predador, para castigar “a trindade” da casa, Teseu, Fedra, e ele próprio. No monólogo fala-se de um Hipólito castigado durante a infância, entre testemunhos da brutalidade de que foi vítima, do amor infantil para com a sua madrasta e da confissão de um filho de pai ausente. O falso monólogo será também uma homenagem ou uma recordação aos casos de pedofilia e de incestos que temos vindo a assistir nestes últimos anos, alimentando-se de um trabalho de patchwork de alguns depoimentos verídicos de vítimas."
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